31 de janeiro de 2014

A MISSÃO DA MULHER

Sara Kalley
Introdução:
O objetivo deste artigo é honrar e demonstrar através de alguns princípios bíblicos o valor e a importância da mulher na vida da igreja. Está claro pela Escritura que a mulher tem papel relevante e essencial na vida humana e no ministério cristão – Deus tem usado mulheres no ministério. Ninguém que possua bom senso diria que a mulher é alguém sem importância ou elemento secundário na vida da igreja, a bem da verdade, é que sem a dedicação feminina estaríamos em má situação.

Diante dessas questões, me proponho a escrever um artigo, reconhecendo e honrando o papel da mulher na igreja e também tentando contribuir biblicamente para a discussão em torno da ordenação da mulher. A ideia não é tratar da mulher na sociedade, mas na igreja e no ministério. Lá no fundo, gostaria mesmo é de contribuir com a restauração do ministério e valorizar a mulher, seguindo os padrões da palavra de Deus.

1. O princípio aplicado e o respeito desejado
Quando se trata do assunto relacionado ao ministério feminino, seja de qual ponto de vista for, corre-se o risco de criar resistências e até mesmo inimizades. Porém, mesmo correndo esse risco não podemos deixar de refletir e buscar entender o que as Escrituras ensinam e também como o conceito tradicional tem sido modificado por entusiastas modernos. Nossa reflexão se dará com muito respeito e amor aos que aderiram ao movimento feminista na igreja, mesmo assim, parte do princípio da suficiência das Escrituras e que somente a Palavra é nossa regra de fé. Agradeço minha amada esposa que pesquisou o assunto por conta de seu TCC, suas exegeses e pesquisa histórica, bem como o que tem me ensinado sobre o papel da mulher. Amor, muito obrigado por permanecer fiel às Escrituras e me auxiliar no entendimento da palavra de Deus.

No campo religioso existem pelo menos duas posições que debatem em relação ao ministério feminino: os chamados igualitaristas e os complementaristas. O artigo estará mais próximo da posição complementarista, isso acontece pelo pressuposto da autoridade e suficiência da Escritura. Refletindo à luz da Escritura, partimos da ideia da Missão da Mulher; o propósito de sua criação e seu papel na igreja. Essa ideia é literalmente uma tese bíblica, mesmo que proposto em artigo e não na academia.

2. Reflexão sobre o feminismo
Para entender a importância do artigo é necessário expor brevemente sobre a posição igualitarista. No caso da religiosidade protestante já se leva o título de “feminismo evangélico”[1].

A máxima do movimento feminista, seja secular ou cristão, é a luta por “direitos iguais”. A busca da mulher por seus valores trouxeram aspectos positivos (valorização da mulher) e negativos (a busca pela igualdade ou superioridade do homem) na história. O aspecto positivo proporcionou a inclusão da mulher nas escolas, conquistas no mercado de trabalho, defesa contra agressões e sua valorização como imagem de Deus. Nos aspectos negativos, veio à autonomia absoluta do homem, a igualdade de papéis e perda da feminilidade.

Já se houve de feministas modernas um arrependimento de ter tirado da mulher o seu legado feminino e ter produzido mulheres frustradas, depressivas e sem sentido na vida. É olhar para as clínicas de psicologia para atestar essa verdade. O movimento não só passou a defender os direitos da mulher, mas também produziu a “guerra dos sexos”, tirando assim a feminilidade e as responsabilidades impostas naturalmente à mulher.

A emancipação feminina trouxe uma inversão de valores para a família, sociedade e inclusive a Igreja, pois a mulher de hoje se preocupa muito com o status, esquecendo-se de suas tarefas primordiais: ser esposa, mãe e auxiliadora. Para resumir o feminismo religioso e revelar seu verdadeiro propósito cito o texto de uma feminista religiosa:

Estou contente por não encontrar mais nenhuma segurança na Bíblia, na história, nos mitos e nas estruturas. Estou contente com o meu modo atual de compreender, que fundamenta a autoridade do meu ofício nas possibilidades do futuro e numa fé na qual eu experimento tão profundamente que nenhuma criatura poderá separar-me do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.39), nem a Bíblia nem a história nem os mitos nem as estruturas ou consciência masculina... Uma parte da autoridade do meu ofício está na possibilidade de libertar a Deus do abuso, que o liga a uma hermenêutica masculina, à história ou à estrutura gramatical (Peggy Ann Way).

Apesar dessa mulher ser da segunda corrente, ela representa muito bem de forma geral o feminismo cristão. Toda estrutura eclesiástica em que a mulher exerce o governo será apresentada sem fundamento na Escritura e sempre negociando ou rejeitando à suficiência e autoridade da Escritura como regra de fé. Não estou dizendo que todas as irmãs ordenadas ou igrejas que ordenam subscrevem essa fala citada em suas decisões, mas com certeza os pressupostos serão os mesmos e para ser coerentes chegarão a conclusões parecidas ou permanecerão na subjetividade e isso também é negar a autoridade da Escritura.

Há um bom número de mulheres influenciadas por esse pressuposto, pois se vê irmãs em busca pelo cargo máximo, o de exercer liderança pastoral ou autoridade eclesiástica maior (“Bispa”)[2]. Já é difícil encontrar aquelas que buscam exercer seu ministério no anonimato, desejo simples de servir. O que aumenta a cada dia e acaba coagindo muitas irmãs é a busca pelo poder e reconhecimento. Por isso existe a necessidade de restaurar a vocação bíblica da mulher e esclarecer as formas de exercer os ministérios conforme seu papel e missão.

Ouve-se de mulheres que rejeitam ensinos importantes; como da submissão, o desejo maternal e muitas já não sonham mais com um casamento abençoado; a preferência é pela vida autônoma e descompromissada com o simples serviço e com a família. Quando se ensina sobre o papel da mulher, ouvi-se que isso é machismo. No movimento citado já encontramos um trabalho para desconstruir a leitura histórica da Bíblia, aqui está a teologia feminista. Conversando com uma irmã querida sobre a ordenação feminina e bases bíblicas para tal, a mesma me respondeu que “essa missão de auxiliadora era apenas na família e não se aplica à Igreja”. 

É necessário considerar a Bíblia na reflexão sobre o ministério e papel das mulheres cristãs, para que possamos servir corretamente a Deus e agradá-lo em nossa Missão. Não podemos negar que existiu machismo e opressão na história, porém nada pode substituir a verdade da Bíblia, nem mesmo os erros de homens que não se deleitam no exemplo de Jesus. Sinceramente, nessa questão o feminismo evangélico tem deixado de lado à Escritura. Em uma entrevista sobre a ordenação, olhe a resposta de uma pastora batista:


Acredito que a resistência ao ministério das pastoras é estritamente cultural, a uma     discriminação de gênero, que permeia toda a nossa sociedade. Hoje, uma grande parte dos líderes mundiais aceitam pastoras”... “Minha conclusão é que o ministério pastoral feminino é uma realidade irreversível. Todos os seminários, de todas as denominações, preparam as mulheres para o ministério, reconhecendo que Deus vocaciona as mulheres também. A resistência é somente ao título de pastoras porque grande parte destas vocacionadas, na prática, exerce o ministério pastoral nas igrejas. Por isso que reafirmo que é uma questão de gênero, de preconceito cultural. À medida que essas barreiras forem sendo vencidas na sociedade, também as venceremos na igreja. Se os pastores, especialmente, fossem mais ensináveis, se refletíssemos mais a respeito das tradições, se tivéssemos um estudo teológico mais sadio  e se fossemos mais sensíveis à ação do Espírito Santo, as pastoras não teriam as resistências que têm.[3]

O pressuposto não é o que a Bíblia diz. Note que o movimento e essas mulheres citadas, adotam o princípio moderno (ou pós-moderno) da INCLUSÃO. A questão é preconceito de gênero, dizem. Esse é o mesmo argumento usado para a ordenação de pessoas homo-afetivas, quer dizer que daqui a cem anos todas as igrejas ordenarão homossexuais? bom! Alguns anglicanos e os presbiterianos da PCUSA já ordenam. Minha questão aqui é o pressuposto usado para legitimar certas questões. Como pastor fico incomodado com a facilidade de alguns "cristãos" e igrejas em negociar a autoridade da Escritura como lei de Deus e regra de fé.

Um argumento muitíssimo usado para ordenação é: “algumas pastoras tem tido mais crescimento que pastores homens” ou “há mulheres mais capacitadas do que muitos homens” ou “na prática as mulheres já pastoreiam ou exercem autoridade, porque os homens não estão cumprindo seu dever”. Realmente preciso reconhecer o valor da mulher e sua notável dedicação à obra e com certeza o número de mulheres servindo é maior e também que muitas irmãs cuidariam do rebanho bem melhor do que muitos homens. A questão não é essa! A questão é que todos os argumentos já citados partem da prática, da experiência, da subjetividade. Queridos, se a Escritura é a NORMA, o padrão pelo qual Deus fala à Sua Igreja, a organiza e edifica, então a experiência deve confirmar a doutrina. Todo sentimento e percepção espiritual devem se submeter à Palavra. Ser protestante (evangélico) é seguir a ordenação da Escritura, ela é a palavra final. Qual o princípio da Reforma? Por que rejeitamos a missa, o uso de velas, padre e arcebispo, o purgatório, o contato com os mortos, as novas revelações de Ellen G.White e outros?[4] Muitas outras “coisas” são legitimadas pela experiência e algumas até dignas e atraentes, mas não são ordenadas e aprovadas pela Escritura. A experiência não pode ser a regra e o padrão no ministério cristão.

3. Nobres irmãs - Notáveis entre os fiéis
Muitas mulheres tem servido ao Senhor ao longo da história da Igreja, podemos lembrar de algumas como: Lúcia de Silícia: viveu nos anos 300 d.C. na Silícia, renuncia tudo por amor aos menos favorecidos, deixa de lado tudo o que tinha para dedicar-se ao dom de misericórdia; Ela rompe seu noivado e começa a sofrer perseguições por causa disso. A sensibilidade da mulher para o serviço solidário num contexto de perseguição e exclusão feminina mostra mais uma vez que a mulher está apta para exercer seu ministério.

Perpétua: vive no norte da África no ano de 203 d.C., assume sua posição de cristã e é lançada na arena. Com tanta fé e sofrimento ainda pede para os demais terem fé e amar uns aos outros, pois é isto que importa. Macrina: viveu em 327, irmã de Basílio e Gregório de Nissa, influenciou os irmãos na teologia e foi importante nas decisões do Concílio de Constantinopla.

Não poderia deixar de citar a D.Sara Kalley, esta notável irmã exerceu papel importantíssimo no protestantismo brasileiro, inclusive em minha denominação. Sara foi esposa do Rev.Kalley, após exercer um ministério relevante em Portugal, chegaram ao Brasil em 1855. No ministério de auxiliadora iniciou uma escola bíblica dominical, talvez a primeira em território brasileiro. Segundo Ismael da Silva Junior, “foi uma constante e eficaz colaboradora do seu esposo. Serviu-lhe de secretária e até esboços de sermões preparava para ele, quando ele ficava enfermo”[5]. Distribuía material aos colportores, ensinava música, organizou a sociedade de senhoras na igreja e ainda já com certa idade fundou uma missão, chamada Help for Brasil. Esta contribuiu com a evangelização do Brasil de forma esplendorosa.

Na modernidade temos a Catarina Booth: Juntamente com seu esposo William Booth fundam o Exército da Salvação. Ela era uma oradora notável e apoiava o ministério de seu marido.  Era grande incentivadora, principalmente de suas filhas; costumava sempre dizer a sua filha mais velha: “Você não está neste mundo por sua própria causa. Você foi mandada por causa dos outros. O mundo está esperando por você”.

Há muitas mulheres no passado e hoje que exercem ministérios relevantes, sem exigir ordenação e sem ao menos se deixar levar pelo feminismo. São verdadeiras auxiliadoras e servas do Senhor[6].

4. A MISSÃO DA MULHER
Agora vamos refletir na palavra de Deus. Em Gênesis 2.18, temos a seguinte declaração de Deus: "Então o Senhor Deus declarou: "Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda". Eu grifei porque este é o texto clássico da criação e missão da mulher, tudo que será dito sobre a mulher na Bíblia e na história da Igreja está baseado aqui.

A mulher foi criada para ser auxiliadora, ou melhor, apoiadora do homem. O que significa ser auxiliadora? “... auxiliadora é alguém que compartilha das responsabilidades do homem, responde à sua natureza com compreensão e amor e coopera de todo coração com ele no exercício do plano de Deus”.[7]

Em primeiro lugar o texto é muito claro em dizer que Deus a criou para o auxilio, cooperação e companhia. Em segundo lugar não há nenhuma base para que a mulher exerça autoridade sobre o homem e não há base no texto e nem no restante da Escritura para pensar que ser auxiliadora está limitado ao convívio conjugal, pelo contrário, o propósito de Deus é estabelecer o motivo de ter criado a mulher e através da criação lhe conferir uma Missão. O Apóstolo tratando sobre esse problema de autoridade retorna para o texto acima e diz: “...nem exerça autoridade de homem...” (1Tm 2.12). Ele coloca em questão a criação do homem primeiro e revela o papel e feminilidade da mulher, trazendo à lembrança o sentimento maternal.[8]

Já ouvi alguém dizer que a Bíblia e Paulo eram machistas. Bom! Em primeiro lugar a Bíblia é a palavra de Deus, inspirada e fruto da revelação soberana de Deus. Quando ela cita um erro, podemos ver claramente revelado a desaprovação de Deus, seja por um profeta ou disciplina direta. Depois um machista nunca colocaria mulheres anunciando a ressurreição de Jesus, o próprio Senhor sendo sustentado por mulheres, não revelaria a existência de juízas, profetisas, hospedeira de igreja e no caso do Apóstolo, dizer que: “o marido deve amar sua esposa como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama” Ef 6.28. Toda essa valorização da mulher na Bíblia acontece em um contexto machista.

Outra reflexão importante é que através de toda a Bíblia, Deus nunca escolheu uma mulher para exercer autoridade/governo religioso sobre o povo de Deus. Antes da lei de Moisés, o homem era o representante da família, este sacrificava e conduzia a educação e o culto. Na lei, quando Deus organiza o sistema de governo e culto, escolhe homens para sacerdotes. No Novo Testamento, Jesus escolhe doze homens para fundar a igreja e estabelece Presbíteros para pastorear e governar Sua Igreja. Na Bíblia temos relatos de juízas e profetisas, mas nenhuma dessas funções exercem autoridade de governar espiritualmente sobre o povo. Quando as mulheres anunciam a ressurreição, está muito claro na história de que elas vão aos apóstolos, pois eles exercem autoridade na Igreja.

De acordo com a Bíblia não existe diferença entre homem e mulher em relação a salvação, a graça de Deus, os dons do Espírito, ao exercício da oração, no serviço e no cumprimento da missão. Porém está claro que há certas restrições no ministério, estas são estabelecidas conforme os papeis de cada um e a ordem no ministério da igreja. 

O exercício de autoridade coloca a mulher no mesmo nível de responsabilidade e missão que foi entregue ao homem, isso quebra o propósito de Deus e causa desordem na estrutura da sociedade. A mulher ordenada deixa de ser auxiliadora para governar, isso tem trazido prejuízos à família e já se vê os prejuízos na Igreja.

Alguns ministérios representam bem o papel da mulher no exercício de sua MISSÃO. Em auxílio ao ministério formal da igreja local ela exerce sua vocação em algum ministério reconhecido pela igreja; sendo casada exerce seu papel complementar ao homem e isto se dá em várias áreas no exercício do ministério sagrado e sendo solteira complementa o corpo de Cristo, a igreja.

O discipulado é um ministério essencial que não exerce autoridade, onde a mulher pode atuar auxiliando o ministério da igreja; este é um ministério onde frutos são produzidos e esses permanecem para sempre. Tem sido um ministério negligenciado, pois é um ministério dos bastidores; onde quem aparece é apenas Nosso Mestre Jesus, por isso poucas igrejas o exercem, não dá ibope.

O ensino - as mulheres na história sempre tiveram um papel importante na educação; e na igreja não é diferente, ela pode atuar no ministério de Educação Cristã. Têm-se visto muitas mulheres atuando em diferentes campos: escola dominical, docência em seminários, direção de colégios e faculdades, discipulados, etc. A mulher educadora tem a capacidade e sensibilidade para identificar necessidades específicas e também organizar estruturas de ensino. É um trabalho que revela claramente seu papel de auxiliadora, não exerce autoridade eclesiástica e coopera no ministério e missão de Deus.
Preparo teológico: O ministério de ensino, seja auxiliando à igreja, no campo missionário ou na sociedade, exige formação acadêmica e preparo constante. No caso da educação cristã, a vocacionada não estuda em busca de ordenação ao ministério da Palavra, mas sim para o exercício de sua vocação com excelência e esmero, seja no ministério de ensino, na igreja ou instituição paraeclesiástica, campo missionário, grupo de louvor, nas diversidades de realizações ou até mesmo em apoio ao marido se for casada. Há uma desvalorização da formação da mulher em denominações que não apoiam a ordenação feminina, seja em casa ou na mente do pastor local. Deus tem chamado mulheres ao ministério e esse chamado exige formação, mesmo que ela não seja ordenada.

Já ouvi coisas do tipo: “meu pai não aprova minha ida ao seminário porque a denominação não reconhece as mulheres”. Sei que em algumas denominações há muito espaço para o ministério feminino, basta às mulheres se envolverem mais e buscar seu lugar. É um grande prejuízo ao Reino e a qualidade espiritual da Igreja impedir a formação simplesmente porque não há ordenação. Precisamos de mulheres preparadas e que assumam sua posição na área da educação, em missões ou onde Deus quiser. Precisamos de mais mestras e doutoras nas Igreja de Deus e em suas instituições.

Missões - outro ministério relevante é a mulher como missionária ou mobilizadora de missões; pois pode despertar a igreja para a evangelização mundial e urbana. Não há fundamento para limitar missões a um grupo específico, é obra de todo cristão e também se é a igreja que envia e sustenta, a mulher não estará exercendo autoridade na obra de evangelização. No caso de plantação de igrejas, seria muito animador que as denominações incentivassem as igrejas nessa obra. Plantando igrejas, ela cumpre à missão no auxílio do trabalho e se submete ao conselho da igreja que a enviou; mesmo dirigindo uma congregação, a mulher responsável está sob autoridade, cooperando, auxiliando e servindo ao Senhor conforme seu papel e o propósito de sua criação (At 1.8; Rm 16.3-5). Ruth Tucker diz em seu livro Até os Confins da Terra: “Desde os primeiros tempos as mulheres contribuíram para a causa da evangelização mundial. A partir do Novo Testamento, na igreja primitiva e durante a Idade Média, projetando-se para o período das missões modernas, as mulheres sempre serviram nobremente”. Graças a Deus por isso!!!

Ação Social - A missão da igreja é resgatar o homem integralmente (física, moral e espiritualmente); A preocupação como igreja é na área espiritual, mas não se pode esquecer das demais, pois são tão importantes quanto. Se não houver uma resposta positiva ao evangelho a pessoa deve saber o seu destino, mas é importante também salientar a necessidade do ser no seu todo, isto é missão integral. A mulher normalmente desenvolve um excelente trabalho nesta área; Devido a sua capacidade de apoiadora e aquela sensibilidade em causas humanas e maternais, ela poderá contribuir para o avanço do reino de Deus. Algumas igrejas possuem um ofício para tal ministério, estabelecendo o ministério formal de diaconia, assim trabalhando na ação social da igreja. Segundo as Escrituras, nossa irmã Febe exerceu esse ministério na igreja local de Cencréia: “Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva http://da igreja em Cencréia” (Rm 16:1). João Calvino apóia essa argumentação, quando diz que uma das classes de diáconos são aqueles que estão encarregados de cuidar dos pobres, assim ele diz: “Porque as mulheres não podiam exercer outro ofício público que o de encarregar-se de servir aos pobres (1Tm 5. 9-10)”.[9]

Alguns ministérios exercidos pelas mulheres são mais informais. O ministério informal seria aquele exercido pela mulher de forma não oficial e por ser informal não existe um cargo ou ofício a exercer ou atividade organizacional para cumprir. Algumas irmãs se sentem inferiores e sem valor; por não estar atuando formalmente se sentem inúteis. Posso afirmar que esse sentimento é ilegítimo e não corresponde ao caráter de uma cristã, serva de Deus. Talvez esse sentimento venha de um problema de ordem espiritual. A mulher com sua inteligência, capacidade emocional, percepção dada por Deus, consegue influenciar o homem de forma que este entenda a necessidade de acolher suas sugestões e conselhos, isso poderá ser extremamente útil ao ministério.

Aconselhamento - A mulher com sua característica de ser boa ouvinte e de se relacionar bem tem a facilidade de aconselhar pessoas. Compreendendo sua missão de mulher, poderá usar esse dom para auxiliar o pastor e ajudar o rebanho de Cristo. Muitas vezes, o pastor por estar ocupado com o ministério da Palavra e a oração, o governo da igreja, ou mesmo em aconselhamento, as pessoas podem se aproximar da mulher e compartilhar suas dúvidas e problemas. Isto é de grande relevância para o ministério pastoral, pois é através do apoio e auxílio da mulher que o homem consegue conduzir melhor o povo de Deus.

Apoiar o líder no seu ministério - A mulher deve trazer palavras de incentivo, apoio e motivação uma vez que o homem possa se sentir desmotivado e cansado com o ministério. É nesta hora que a verdadeira auxiliadora age e age com sabedoria. A esposa pode alavancar o ministério do marido, bem como pode destruí-lo. A sabedoria da mulher edifica e conduz o homem à um ministério tranquilo e firme.

Ajudar no equilíbrio financeiro - O papel de administradora é da mulher (Pv 31.10-31), sendo assim a mulher pode e deve transferir esta sua característica para auxiliar a igreja. Por exemplo, quando o pastor compartilha algo que pretende fazer, ela com sua sabedoria pode aconselhá-lo a verificar o orçamento, valores em caixa antes de tomar uma decisão. A mulher com sua visão mais ampla e mais detalhista é capaz de perceber esta situação com maior facilidade que o homem. Seguindo o exemplo bíblico na família, a mulher cuida e multiplica os recursos trazidos pelo provedor, não vejo motivo para não ser assim no ministério da igreja.

Citei algumas possibilidades de ministério, mas Jesus Cristo, sendo chefe e cabeça da Igreja é quem determina os lugares no corpo e suas funções -talvez seja isso que o Espírito intenciona, a dizer: "E há diversidade nos serviços... " e "há diversidade nas realizações" (1Cor 12.5,6).

Conclusão
A MISSÃO DA MULHER deve ser resgatada na igreja evangélica. Suas características, papéis e valorização precisam seguir os ideais do Senhor. A estrutura familiar e eclesiástica não pode ser determinada pelos padrões da nova sociologia ou nova psicologia e nem mesmo pelos ditames do movimento feminista. As mulheres honrosas e verdadeiramente cristãs seguem a autoridade da Escritura. Seguindo a Bíblia como regra de fé teremos na obra de Deus muitas e muitas mulheres amando e servindo ao Senhor, sempre fazendo Sua vontade e glorificando Seu Nome! Bendito Seja o Senhor que nos beneficiou com a presença graciosa das mulheres e através da sua criação nos deu sentido na vida e nos complementou! Mulheres, vocês são demais e precisamos de vocês!

Sou grato a Deus por algumas mulheres que contribuíram com a história da minha vida, seja no aspecto natural ou religioso. Desde cedo na fé cristã fui abençoado por mulheres ordenadas e reconheço a importância delas em minha história; algumas amigas, professoras e companheiras de ministério. Fui evangelizado por uma moça a primeira vez em minha vida, uma irmã ordenada participou em meu batismo e tenho colegas de turma no seminário que foram ordenadas e que estimo muito. Se meu princípio partisse da experiência teria todos os motivos do mundo para justificar a ordenação, mas tenho grandes dificuldades em negociar a doutrina da suficiência e autoridade da Escritura.

Queridos amigos e leitores igualitaristas, já adiantando, estou preparado para o famoso jargão de FUNDAMENTALISTA.

Bendito seja Deus por nossas mulheres,

Glauco



[1] Preciso arriscar em dizer que talvez a maioria das mulheres ordenadas nas igrejas evangélicas não defendem essa posição explicitamente. Posso afirmar que algumas são ordenadas simplesmente para seguir um sistema e no processo não houve reflexão e nem exame bíblico para tal. Mas o fato de aceitar algo sem saber e estudar profundamente é inaceitável. Aceitar um ofício eclesiástico sem ter fundamento bíblico não seria uma atitude cristã.
[2] Obs: Quero lembrar que essa designação não existe em português, é um erro grosseiro – o feminino de Bispo é Episcopisa. A ignorância chegou ao seu estado máximo no evangelicalismo brasileiro.
[3] In: http://pastorazenilda.blogspot.com.br/2012/04/cbb-e-aceitacao-de-mulheres-como.html
[4] De acordo com as decisões do Concílio de Trento e de Vaticano Segundo, as Escrituras e a Tradição tem a mesma autoridade como palavra de Deus. A Escritura não é a palavra final, mas sim as decisões da Santa Sé.
[5] JUNIOR, Ismael da Silva. Herois da Fé Congregacionais. Rio: Igreja Evangélica Fluminense, 1972, pág.65.
[6] Não vou citar nomes de mulheres de hoje para não constrangê-las, mas poderia citar uma centena delas.
[7] GEORGE, Elizabeth. Uma Mulher Segundo o Coração de Deus. São Paulo: Hagnos, 2004, pág. 63.
[8] No período do N.T já havia um certo feminismo, este divulgado pelas sacerdotisas sexuais. É provável que nas igrejas gentílicas algumas irmãs estavam sendo influenciadas pelo movimento e até mesmo por líderes, conforme diz Jesus em Apocalipse 2.20.
[9] CALVINO, Juan. Institución de lá Religión Cristiana – Países Bajos: Felire, 1999. (minha tradução)

3 de janeiro de 2014

O título "REVERENDO"

Esse artigo é fruto de reflexão e perguntas de alunos em sala de aula ao longo de alguns anos. Porém a real motivação em escrever sobre o assunto no blog foi uma experiência ruim que tive recentemente. Ao encontrar um conhecido, o Rev. St.Andéol[1] (nome fictício), o cumprimentei, conforme meu costume, dizendo: Boa Tarde Reverendo! Para minha surpresa e vergonha, o Sr respondeu: “Reverendo não, pois Reverendo é só Jesus”! Bom, como respeito e cordialidade são atitudes cristãs, respondi brincando que Jesus é Reverendíssimo[2] e parei por aí, envergonhado de tamanha ignorância espiritual e intelectual. Não sei o real motivo dessa reação, mas é fato que para algumas pessoas a motivação é filosófica ou teológica, por isso vale a pena escrever sobre o assunto.

Uma das características da pós-modernidade é a rejeição por títulos, instituições e compromisso com a ordem. Já se tem provado através de pesquisas e dissertações que a luta na pós-modernidade é desestruturar os dogmas e as tradições que surgiram ao longo da história. Essa postura tem criado em algumas pessoas uma ojeriza[3]pela formalidade ou pela ordem estabelecida. O ideal é vivenciar todas as coisas de maneira informal e espontânea, isso se aplica também às questões religiosas.

Essa ideologia já adentrou no campo religioso e familiar. É evidente a desordem e o entretenimento nos cultos por aí e um número considerável de pessoas rejeitando a história da igreja e sua tradição. O objetivo do artigo não é refletir sobre culto e tradição, mas sobre a questão de um título que vem sendo rechaçado por alguns, e não por humildade ou modéstia, mas para estabelecer o dogma da informalidade. Não tenho o objetivo de preferir títulos ou absolutizar uma hierarquia, mas combater esse movimento da informalidade que tem feito tanto mal à vida da Igreja e ao ministério sagrado.

Tenho sido educado em minha formação e nos estudos da história da igreja e na história e tradição da minha denominação a honrar meus líderes. Assim como na estrutura de autoridade civil, a Bíblia ensina a honrar e respeitar as autoridades eclesiásticas, tanto uma como a outra são ministros de Deus para nosso bem (Rm 13). Essa honra deve ser em obediência e submissão, mas também atribuindo a essas autoridades títulos honrosos. Já imaginou os fariseus, chamando Jesus de Rabi e Ele respondendo como o Rev.St Andéol? Não, Jesus sabia ser humilde sem rejeitar honra e estima!

No caso das autoridades civis se utiliza títulos para honra e para determinar seu grau na hierarquia. O grau é conquistado pelo trabalho desenvolvido, estudos preparatórios, tempo de serviço, alguma conquista, entre outros critérios. Em relação as autoridades eclesiásticas há uma certa diferença, mas nem tanto.

Biblicamente falando as palavras revelam mais a função do individuo do que um título hierárquico. Aqui está o caso de pastor, presbítero e bispo. Parece-me que somente no caso dos doze apóstolos isso muda, pois o título para os doze revela a função e a autoridade hierárquica. Eles são as colunas pela qual a Igreja é edificada. No caso dos outros chamados apóstolos, estes a palavra revela somente a função como enviados (missionários).

É por causa da função que exercem e em resposta à vocação divina que são dignos, não apenas de duplos honorários (financeiramente), mas de notável honra. São homens nobres, que velam pelas almas e se afadigam no Ministério da Palavra. Não é sem motivo que o Apóstolo registra: “E rogamos-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós” - 1Ts 5.12-13. Considerar em grande estima também é demonstração de respeito e autoridade, assim é que se emprega o título Reverendo aos nobres pastores de Cristo.

Essa honra aos Ministros da Palavra ao longo da história da Igreja é a titulação de Reverendo. Algumas igrejas históricas se utilizam deste título por entender que a titulação pastor não é adequada, pois essa não é título e nem todos os chamados pastores cuidam de rebanho, alguns exercem funções administrativas, apenas a docência ou cargos em autarquias. O título pastor foi adquirindo preferência nas igrejas evangélicas e passou a fazer parte do vocabulário protestante, por isso alguns irmãos e igrejas se utilizam do título reverendo apenas por ser uma expressão honrosa e permanecem com a função pastor em forma de titulação.

Em minha denominação (ICEB), a titulação segue o modelo das igrejas históricas. No início havia forte ênfase no ministério leigo e assim permanece valorizando o mesmo; mas desde que a igreja começou a se organizar que se convencionou a titular o obreiro formado e ordenado à Reverendo. O título permaneceu na união com os Congregacionais (1942-1969) e permanece em honra ao pastor ordenado. Nossos documentos revelam que em todas as épocas, pelo menos, desde a década de 1920 até hoje os Ministros são honrados como Reverendos.

Se o Ministro da Palavra, também reconhecido oficialmente como Pastor é digno de honra, porque depreciar um título de respeito e autoridade? Que proveito e edificação há em depreciar ou rejeitar um título honroso? O Ministério não é uma honra? Não é digno aquele que aspira o episcopado?

O título de Reverendo é uma forma de reconhecer também a dedicação daquele que percebendo sua vocação, deixa seus sonhos e sua vida comum para ingressar ao preparo formal para servir no ministério. Tantos anos de estudos e renúncia de si mesmo, que sua ordenação, coroando a vocação sagrada é acompanhada de titulação. A vocação e a função pastoral são soberanas e graciosas, mas o título é por mérito – de alguém que se santifica e dedica para melhor servir ao Senhor e a Sua Igreja.

Alguns alegam que o título traz uma certa distância do rebanho. Se isso fosse verdade deveria o ser em tempos passados também. Há intitulados pastores mais distantes do rebanho do que se possa imaginar.
Queridos irmãos, o problema não está no título ou em roupas formais e sim no coração. O título ou a vestimenta não forja o caráter de ninguém, mas sim sua conversão e santidade ou a falta destes. É sobre isso que Jesus nos adverte em Mt 23.1-12.

Recebendo o título de Reverendo ou apenas Pastor, o que importa é ser a imagem de Cristo e ser encontrado fiel, como despenseiro do Evangelho e em pleno serviço e amor à Igreja. Tenho certeza que a informalidade é mais prejudicial e conduz à libertinagem, enquanto a autoridade e ordem, conduzem à reverência e glória de Deus!

Alguns não se sentem a vontade com o título e isso é bem compreensivo, também não me sinto a vontade com o uso de vestimentas litúrgicas. Tenho amigos que particularmente me pedem para chamá-los apenas de pastores ou pelo nome, isso é legítimo e não há nenhuma necessidade de depreciar o título e a tradição cristã. Mesmo não me agradando das vestimentas litúrgicas não desonro ou rechaço quem se utiliza desse recurso corretamente.
pr. Glauco Pereira

Quero anexar ao artigo uma reflexão bem coerente do Rev. Odayr Olivetti.

SOBRE TÍTULOS DOS PASTORES

Pergunta nº 29 – “Por que os pastores têm o título de ‘reverendo’, sendo que tal título não é bíblico?”

Resposta: vamos por partes:

1. Não são somente os pastores presbiterianos que usam esse título. Desde muitos séculos atrás, esse título foi adotado para designar os clérigos. Encontramo-lo na Igreja Católica Romana, na Igreja da Inglaterra (Anglicana), nas igrejas episcopais, metodistas, etc. Na Inglaterra, por exemplo, somente alguns dissidentes, ou seja, somente algumas igrejas livres, separadas da igreja oficial do país, é que rejeitam o uso desse título. Assim é que, naquele país, mesmo entre os batistas há grupos cujos pastores usam o título de reverendo.

2. Pensemos um pouco em alguns títulos explicitamente bíblicos. Vamos nos restringir aos seguintes: anjo, pastor, mestre, guia (Ap 1.20; 2.1; Ef 4.11; Hb 13.7,17).

a) Quanto sabemos, “anjo” não foi adotado por igreja alguma, por uma série de razões imagináveis, entre as quais esta: o desenvolvimento errôneo da representação dos anjos na crença e na prática do romanismo, desfigurando os vigorosos mensageiros do Senhor.

b) “Pastor”, título muito simpático e que expressa as funções básicas dos ministros e de outros obreiros – alimentar, guiar, proteger e disciplinar o rebanho. É adotado por algumas denominações, e não deixa de ser utilizado de maneira menos formal e mais coloquial pelos presbiterianos e outros.
Contudo, analisando-se bem a questão relacionada com esse título, notam-se alguns motivos de objeção ao seu uso como título específico dos ministros da Palavra. Vejamos:

1º - Sl 23.1 – É utilizado com referência à Divindade: “O Senhor é o meu pastor”. Em Jo 10.11,16; Hb 13.20; 1 Pe 2.25, etc., Jesus Cristo é chamado pastor.
Não causa espécie dar a uns pobres mortais, “vasos de barro”, na expressão de Paulo, um título que é dado a Deus Pai e a Deus Filho?

2º No caso da descrição das atividades na igreja e da igreja, “pastor” é palavra mais descritiva de funções, não título peculiar a uma dada categoria de pessoas. Note-se que no Antigo Testamento Deus se refere a um pagão como Seu pastor (Is 44.28). Em At 20.28 e em 1 Pe 5.1,2, se vê que não são somente os ministros da Palavra que exercem funções pastorais.

c) “Mestre”. Nas várias denominações evangélicas há pastores que são chamados “mestres”, ou porque fizeram mestrado em algumas disciplinas acadêmico-teológicas, ou porque são professores em seminários e institutos bíblicos, ou porque obtiveram o grau de doutor em algum curso teológico, sendo que, lexicamente, mestre, professor e doutor são sinônimos. – Mesmo denominações que repudiam o título de “reverendo” para os seus ministros, não se acanham de lhes permitir ou lhes dar o título de “mestre” ou “doutor”. Entretanto, Jesus Cristo vetou o uso desse título, dizendo: “Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos” (Mt 23.8).

d) “Guia”. Expressando pouco mais pouco menos o que a palavra “pastor” expressa, sendo, porém, palavra menos rica do que “pastor”, o título “guia” sofre a mesma objeção que atinge a palavra “mestre”, pois Jesus ordenou: “Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo” (Mt 23.10).

3. As palavras ligeiramente antes consideradas são significativas e envolvem habilitação, autoridade, poder. Sem essas qualificações, como pode o pastor pastorear, o mestre ensinar e o guia guiar?
Ora, esses títulos, dados e aceitos no seio da igreja cristã, requerem atitude respeitosa e disposição para a obediência por parte dos membros da igreja. Os que não se dispõem a se colocar na posição de cordeiros e ovelhas, não respeitarão o pastor e não obedecerão à sua voz; os que não se dispõem a se colocar na posição de discípulos ou alunos, não respeitarão o mestre ou doutor, e não seguirão as suas instruções. Os que não se dispõem a se colocar na posição de pessoas guiadas, conduzidas, dirigidas, não respeitarão o guia e não seguirão as suas indicações e a sua direção.
Observe-se como as ideias de respeito e de obediência estão presentes em qualquer desses títulos, ou de outros semelhantes, que se queira dar ao ministro da Palavra.
Ora, o significado primário da palavra “reverendo” é este: “digno de ser reverenciado ou respeitado” (Caldas Aulete).
Além das considerações feitas até aqui, os cristãos fiéis e os homens em geral devem ser tratados com honra (Fp 2.29; 1 Pe 2.17), o que por certo não exclui os ministros desse tratamento honroso. Mas, de modo especial, as referências e descrições bíblicas favorecem a ideia de que os ministros de Deus devem ser respeitáveis (responsabilidade deles) e respeitados (responsabilidade dos outros). Ver, por exemplo, Êx 3.10-14; Nm 12.1-10; 14.1-12; 16.1-5,28-33; Mt 10.14,40-42; Jo 12.26; 1 Tm 5.17; Hb 13.7,17.

Destaques:
a) 1Tm 5.17 – Os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino (presbíteros docentes; responsáveis por fazer o que está registrado nessa parte da passagem), são considerados merecedores de dobrada honra, ou de dobrados honorários (responsabilidade dos membros e dos demais oficiais da igreja).

b) Hb 13.7,17 – “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e considerando atentamente o fim da sua vida” (responsabilidade dos guias), “imitai a fé que tiveram” (responsabilidade dos outros crentes). “Obedecei aos vossos guias, e sede submissos para com eles” (responsabilidade dos membros e oficiais da igreja); “pois velam por vossas almas, como quem deve prestar contas” (responsabilidade dos ministros de Deus).

“Imitai a fé” e “Obedecei... sede submissos” exigem humildade, respeito, consideração.
Portanto, não é antibíblico dar o título de reverendo aos pastores.

c) Mesmo porque, os ministros do Evangelho sabem que toda e qualquer honra que recebam pertence a Deus e a Deus a transferem, no espírito de passagens como Sl 115.1; 1 Co 1.10,31 e Rm 11.36.

O ministro que se pavoneia por causa dos privilégios do ministério, como se ele fosse o tal, está abusando, e lembra o burro da fábula: Transportou no lombo, pelas ruas da cidade, relíquias que faziam os transeuntes pararem e se dobrarem respeitosamente. O burro ficou cheio de si. Qual não foi seu espanto, quando, ao voltar, já sem as relíquias no lombo, em vez de gestos reverentes recebeu pedradas!
Finalizando, os títulos em si nada são. Deixemos que cumpram a sua tarefa de designar funções, de distinguir carreiras e de credenciar habilitações formais, estabelecendo certa norma de relações e de serviços na igreja.


Odayr Olivetti, Consultório Bíblico, (São Paulo: Cultura Cristã, 2008), 49-52




[1] Segundo a tradição Andéol foi enviado como missionário ao sul da França pelo Bispo Policarpo, cidade que hoje leva seu nome e que tive o privilégio de conhecer em 2013.
[2] O título Reverendus (Latim) pode ser aplicado à Jesus, pois uma possível tradução é reverência como devoção. Como as outras possíveis traduções são respeito e honra, a igreja se utiliza como termo eclesiástico. Podemos encontrar muitas citações em documentos na idade média.
[3] Sentimento de repulsa, repugnância, provocado por variados motivos; antipatia, aversão. In: http://www.dicio.com.br/ojeriza/ - 31/12/2013.